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O Brasil pode ser tornar um dos países líderes da Indústria do Hidrogênio?

Monica Saraiva Panik - Mentora da Mobilidade a H2 da SAE BRASIL - Curadora da BW - 06.05.24

O Brasil pode ser tornar um dos países líderes da Indústria do Hidrogênio?
O Brasil pode ser tornar um dos países líderes da Indústria do Hidrogênio?

Sim, o Brasil pode se tornar um dos países líderes da Indústria do Hidrogênio, mas tem até 2030 para se preparar e se posicionar na liderança. Hoje o Hidrogênio ainda é um mercado emergente, mas em 2030 ele atingirá a maturidade, e portanto temos apenas 6 anos para capacitar a engenharia nacional e sediar novas linhas de produção de componentes, máquinas e equipamentos, os quais já estão sendo produzidos e comercializados no mercado global. A produção nacional das tecnologias do hidrogênio independe do mercado nacional porque o mercado global já é gigante. Se o Brasil não se candidatar, outros países como os Estados Unidos, a China, a Alemanha e o Japão, continuarão liderando. 


De acordo com dados fornecidos ao Hydrogen Insight pela Rystad Energy, e a avaliação recentemente atualizada dos projetos de hidrogênio verde e metas anunciadas em todo o mundo, a Austrália, os EUA e a Espanha liderarão o mercado no final da década, seguidos pelo Canadá, Chile, Egito, Alemanha, Índia, Brasil e Marrocos, nessa ordem.



Fonte: Gráfico mostra Top 10 países Produtores de Hidrogênio verde de 2023 a 2030.

Foto: Rystad Energy/Hydrogen Insight


O Brasil está entre os “Top 10”, mas não no topo do bloco porque a análise considera somente projetos anunciados, e não considera que, ao contrário de alguns países citados, já temos um setor elétrico de energias renováveis consolidado, o qual inclui infraestrutura de transmissão do Sistema Interligado Nacional (SIN), mercado livre de compra e venda de energia que promove competitividade no custo da eletricidade, matriz elétrica acima de 90% renovável e as inúmeras fontes renováveis disponíveis em todo o território nacional. Mas não é culpa de quem avalia, e sim do nosso país que não divulga os seus maiores tesouros.


A indústria global de componentes, máquinas e equipamentos do setor do hidrogênio se desenvolveu nos últimos 25 anos. Hoje a maioria dos fornecedoras tradicionais do setor automotivo está desenvolvendo, fabricando e comercializando máquinas, equipamentos e componentes para o setor do hidrogênio, e nos últimos 2 anos ampliaram seu portfólio de produtos para fornecer tanto para plantas de produção de H2 quanto para  sistemas de célula a combustível em diversas aplicações (mobilidade, geração estacionária, marítimo, ferroviário e veículos/máquinas de construção/logística).


O objetivo é atender o mercado global anunciado de 200 GW de plantas de eletrólise para produção de hidrogênio verde, bem como as metas de países e indústrias automotivas, principalmente no segmento de caminhões pesados, trens e geradores de eletricidade distribuída, até 2030. 



Porquê 2030?

Noventa (90) países, representando 80% do PIB mundial, signatários do Acordo de Paris no contexto de suas “NDCs” (Contribuição Nacionalmente Determinada), estão comprometidos com as metas de Zero Emissões de gases de efeito estufa até 2050  e de redução de 50% até 2030. Essas metas foram transferidas para todos os setores econômicos, mas para que sejam cumpridas, uma quantidade significativa de fontes renováveis de energia precisa ser instalada e integrada, e setores que demandam energia, como o transporte e a indústria, precisam  ser descarbonizados em grande escala. Na visão do Hydrogen Council (Conselho Global do Hidrogênio), o hidrogênio é o pilar central dessa transformação energética em curso, pois pode contribuir com as mudanças necessárias para reduzir as emissões de CO2 em 60% até 2050, considerando um aumento da população mundial para 10,9 bilhões de pessoas.


O mercado global sinaliza que em 2030, os projetos anunciados de produção de hidrogênio a nível global estarão operando. De acordo com a Roland Berger, os anúncios de projetos credíveis/maduros estão atualmente na ordem de cerca de 200 GW da capacidade de eletrólise e investimentos anunciados de cerca de US $ 500 bilhões até 2030. Trinta por cento (30%) desses projetos podem hoje ser considerados “maduros” - o que significa que o investimento está em fase de planejamento, passou por uma decisão final de investimento ou está associado a um projeto que já está em construção, comissionado , ou atualmente operacional. 


No setor automotivo, de acordo com o site Market&Markets, o mercado global de células a combustível irá crescer de USD 3,3 bilhões em 2023 para USD 8,7 bilhões em 2028 a uma taxa de crescimento anual (CAGR*) de 21,7% durante o período analisado. Políticas públicas favoráveis e investimento em pesquisa e desenvolvimento têm um papel chave no crescimento do mercado.


A Ásia-Pacífico é considerado nesse relatório, como o maior mercado devido ao altos investimentos relacionados com a tecnologia de células a combustível, sendo o Japão e a Coréia do Sul os maiores na região. A América do Norte e a Europa são consideradas como o segundo/terceiro maiores mercados durante o período analisado. 



De acordo com a análise feita pela Mordor Intelligence (https://www.mordorintelligence.com/industry-reports/fuel-cell-commercial-vehicle-market), o mercado de veículos comerciais moviso a célula a combustível foi avaliado em US$ 2 bilhões em 2021 e deverá crescer para US$ 14 bilhões até 2027, registrando um CAGR de mais de 40% durante o período avaliado (2022 - 2027). O estudo espera que a Ásia-Pacífico lidere o mercado devido ao imenso tamanho da indústria automotiva em grandes países como China, Índia, Indonésia e Tailândia. A região também abriga grandes fabricantes de tecnologia de veículos a células a combustível e espera-se que investimentos aumentem ainda mais na região. 


Várias grandes cidades e países divulgaram os seus objetivos para reduzir as emissões dos veículos comerciais, com planos de investimentos para as tecnologias do hidrogênio neste setor. O governo japonês está apostando em veículos a hidrogênio para alcançar a neutralidade de carbono até 2050 e estabeleceu uma meta ambiciosa de ter 200.000 veículos movidos a célula a combustível nas ruas até 2025, juntamente com 320 postos de abastecimento. O governo da Coréia do Sul publicou planos de ter 6,2 milhões de veículos movidos a célula a combustível produzoidose construir pelo menos 1.200 postos de reabastecimento até 2040. A Europa e a Califórnia anunciaram que esperam ter aprox. 100.000 caminhões operando até 2030.


A Califórnia (https://cafcp.org/by_the_numbers) é históricamente o maior mercado de veículos a célula a combusível e infraestrutura de hidrogênio do mundo. Hoje mais de 50.000 veículos movidos a célula a combustível e mais 800 postos de abastecimento estão operando no mundo, sendo que 18.000 veículos e 108 postos na Califórnia. Residentes no estado ganham um desconto de até US$ 4.500 e o Governo Federal oferece até US$ 8.000 de crédito na compra de veículos de passeio a célula a combustível.


Na Europa os caminhões H2GEN da Mercedes-Benz já estão sendo testados em clientes como a Amazon, Air Products, INEOS, Holcim e Wiedmann & Winz. O H2GEN atingiu a marca de 1 milhão de quilômetros em testes na Suiça, país que fomentou o setor após isentar o pedágio para os caminhões movidos a célula a combustível, representando uma economia para empresas de logítica, de aprox. 300.000 Euros, por ano e por caminhão que atravessa a fronteira Suiça.




A Alemanha já tem quase 100 postos de abastecimento de hidrogênio e a H2 MOBILITY foi fundada em 2015, com o objetivo de ampliar a infraestrutura de hidrogênio para automóveis e veículos comerciais em 7 áreas metropolitanas de Hamburgo a Munique. Foram feitos investimentos por empresas como a Shell, Air Liquide, TotalEnergies, Linde, Daimler Truck, EG Group e Hyundai, além do apoio técnico de parceiros associados como a BMW, Honda, Tank & Rast, Toyota e Audi. Em todos os postos, os automóveis e veículos comerciais podem abastecer com hidrogênio a 700 bar.


Recentemente foi instituída uma nova precificação nos postos na Alemanha, onde o hidrogênio verde é mais barato (o H2 a 700 bar custa 11 Euros/Kg nos postos que abastecem com hidrogênio verde e 13,85 Euros/kg nos postos que utilizam hidrogênio cinza). Além disso, um modêlo de negócios das empresas de gases industriais como Air Liquide, Linde e Air Products no mercado global, está facilitando a implementação da infraestrutura de H2, no qual essas empresas investem na implementação da estação de abastecimento e o cliente paga pelo hidrogênio a partir de um consumo garantido de no mínimo 1.000 Kg H2 (1 tonelada) por dia. 




A Transição Energética mudará a geopolítica do comércio internacional de energia e países, como Brasil, que possuem abundância de fontes de energia renovavél se tornarão produtores, consumidores e exportadores de hidrogênio verde/renovável e seus derivados e de produtos verdes, como o aço, a amônia, fertilizantes, cimento, papel, vidro, combustíveis sintéticos como o e-metanol, o e-querosene, e a gasolina verde. O potencial de mercado para os combustíveis sintéticos a base de H2, abre novas oportunidades de negócios para o setor de biocombustíveis no Brasil.


É preciso compreender a importância do ecossistema do hidrogênio para a geração de novos empregos, atração de novos investimentos e capacitação da indústria brasileira, porque sua cadeia produtiva é imensa e compreende todos os setores da economia. No segmento de hidrogênio verde ou renovável, a cadeia produtiva tem início no setor de geração de energia renovável, passa pelo setor de tratamento e suprimento de água, tecnologias para produção de hidrogenio e seus derivados, armazenamento, distribuição e logística até o consumo final pela indústria, transporte e geração de calor e eletricidade distribuída, incluindo fabricantes de componentes, equipamentos e prestadores de serviços em toda a cadeia. 


Para iniciar o processo de reindustrialização do Brasil aproveitando as oportunidades do setor do Hidrogênio, é preciso capacitar a engenharia brasileira, fomentar a criação de novas linhas de produção e a nacionalização das tecnologias do hidrogênio, independentemente do mercado nacional, já que o mercado global já existe, e em 2030, estará maduro com as devidas lideranças consolidadas.


Uma iniciativa do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), denominada Made in Brasil Integrado (MiBI), estabeleceu a criação da Rede Colaborativa para o Aumento da Produtividade e da Competitividade do Setor Automotivo Brasileiro, a qual nacionalizou respiradores pulmonares em 3 meses durante a pandemia. O Grupo de Estudos GE8, liderado pela SAE BRASIL e criado através da portaria SEPEC Nº 9035 DE 17/09/2021, cuida do fomento à indústria brasileira de média e alta complexidade para a econômica de hidrogênio no Brasil.


O GE8 dá ênfase ao conceito “do Poço à Roda”, ou seja, a produção, distribuição e aplicação do H2, tendo como prioridade a viabilização de fontes renováveis de energia para o setor de transportes. Há cerca de 3 anos, o MiBI GE8 H2 está disseminando conhecimento na indústria brasileira sobre componentes, máquinas e equipamentos que estão sendo comercializados no mercado global, em cooperação com o SINDIPEÇAS e a ABIMAQ.


Um evento na sede da ABIMAQ em São Paulo no dia 26 de março, reuniu especialistas e representates da indústria nacional. Nos dias 16 a 17 de outubro de 2024 durante o 31° Congresso da SAE BRASIL na BIENAL do Ibirapuera em São Paulo, será realizada uma exposição tecnológica pioneira no Brasil, de amostras de componentes, máquinas e equipamentos do setor global do Hidrogênio, bem como um painel técnico com especialistas da indústria global, os quais apresentarão as tecnologias apresentadas na exposição.


Fabricantes globais e nacionais de componentes, máquinas e equipamentos do setor global do hidrogênio com subsidiárias no Brasil, instituições governamentais (agências reguladoras, órgãos ou entidades competentes), instituições acadêmicas, centros de pesquisa e instituições de fomento à pesquisa e inovação, e bancos de desenvolvimento e investimentos estão convidados a participar dessa trajetória incansável de 6 anos, até 2030, com o objetivo de posicionar a indústria brasileira como uma das líderes globais do setor do hidrogênio.

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